sábado, 26 de dezembro de 2009

Perdão

Perdoa-me.
Perdoa-me se a vida continua.
Se não sou capaz de a fazer parar pra chorar por ti.
Perdoa me se sorrio, se canto e se consigo estar contente porque me esqueço.
Eu sei que não devia, mas não sei como o faço.
Perdoa-me se ela sorri, ela não podia sorrir, nem olhar nem pensar, ela não podia...
Desculpa-me ter passado tanto tempo, desculpa me não ter perguntado, querer saber e não estar lá.
Desculpa se procuro, se olho a volta e vejo todos a continuar a vida sem ti, aparentemente é possível.
Perdoa me que não entenda como achas te que não era possível para ti.
Preciso que me perdoes porque eu sinto tudo tão vazio, tão esquecido que acho que sinto pena de ti.
E eu não acredito.
E eu não aceito
Não parece real...
Mas aqui que eras das poucas que ouvia, aquilo que realmente preciso que perdoes...
é o facto de eu não te perdoar a ti.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Futuro.

Entrei num caminho estreito,
não é plano,
tem rochedos enormes
o passado em cada folha verde
e não vejo viv'alma!
E simplesmente vagueio.
Oiço.
Vejo.
Mas já não sei se sinto.
Tentei subir a uma árvore e por lá ficar, mas não consigo.
E tudo o que me atormenta agora cai sobre mim numa força imensa, maior que a dos rochedos!
Atormentam me as tais folhas verdes. Que me perseguem e eu só quero esquece-las.
Esquece-las porque passou o tempo, passou a altura de fazer com que fossem caminho, com ou sem rochedos.
Passou a altura em que tudo me parecia bem, em que me sentia apreciada.
Mas também passou a altura em que caminhava colhendo folhas verdes.
As folhas verdes não me levam a lado nenhum, por isso, agora, caminho e subo rochedos sem olhar para elas.
Para mim é quase como se não estivessem lá.
É inverno e as folhas verdes do Verão e da Primavera há muito que ficaram para trás.
Então subo rochedos e olho o horizonte, começo a ver viv'almas e também lá estão árvores.
E quando lá chegar, aí sim, fará sentido.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tempo

Se tivéssemos tempo,
tempo de saber
de experimentar, de errar, de aprender, de repetir, de ouvir, de perdoar, de amar,
tempo de viver.
Falta me tempo.
Foge-me entre os dedos, não o agarro.
Ele passa e não me leva.
Não me leva, não me olha, nem me sente.
Fiquei lá. Naquela rua, escura, sozinha. A rua?

Deixaram me naquele caminho que fiz pela ultima vez, deixaram me o olhar magoado que dei pela ultima vez.
Mas se me tivessem deixado só assim eu estava bem.
As viagens, os costumes, as memórias, os cheiros, os sons, os cheiros, os cheiros, os cheiros!
Os toques, os sorrisos, os sorrisos!
Deixaram me a memória do que era feliz, a mentira feliz, a irrealidade deliciosa.
Quem diria, que eu me arrependeria de pedir o 'quem diria?'
Quem diria que eu escreveria sobre isto se eu apenas queria falar sobre a falta de tempo.

O tempo que me falta para esquecer a memória.
O tempo que me falta para ser perdoada.
O tempo que me falta para perdoar.
O tempo que me falta para perceber.
E quanto tempo falta para a felicidade, sem memória?

Estamos todos tão alheios ao sofrimento uns dos outros, não se fala, não se diz, não se sente.
Não se chora,
não se grita,
não se sente.
Mas dói.

Por isso elas correm, e hão de correr mais, e que corram!
Desde que...
desde que me prometam que há tempo, que eu tenho tempo de não me lembrar que elas correram, tempo de não me lembrar nem porquê.

E eu não percebo, não aceito e talvez até nem consiga digerir.
E talvez até nem tenha tempo para tudo, não tenha tempo para sentir que sim.
Mas enquanto alguma coisa me fizer esperar...
Ele passa.